segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Ni no Kuni - Impressões

Ni no Kuni oferece o grau de exploração que não se vê
mais em JRPGs.
Quem curte os filmes do estúdio Ghibli e quem curte os jogos da Level 5 já deve estar bem familiarizado com o projeto em conjunto dos dois. Vale a pena? Com certeza. É bom? Há controvérsias. É duradouro? Nem tanto. Ni no Kuni: wrath of the white witch foi muito bem avaliado pela imprensa especializada -  o Kotaku definiu como "Dragon Quest sem todo o bullsh*t", mas ele ainda tem mutas falhas.

Isso vai irritar algumas pessoas, mas sinceramente eu não achei ele um jogo bem feito. Sem  brincadeira, em termos de jogabilidade Ni no Kuni parece juntar todos os pontos fracos do design de jogos da Level 5, só que com menos força: o excesso de dependência em grinding de itens, o sistema desengonçado de combate (que tenta unir os menus típicos de um jogo por turnos com combate em tempo real, sem muito sucesso) que favorece o attack attack attack acima de tudo, os aliados burros como portas, a dificuldade esquizofrênica e a multitude de conteúdo que só aparece depois do fim do jogo.



São problemas que dão as caras desde do antigo Dark Cloud, e que aqui tem quase tanta força quanto em White Knight Chronicles - mas sem a desculpa para o grind e o conteúdo pós end-game que é o modo online. Porém, felizmente aqui eles não são problemas obrigatórios. É perfeitamente viável terminar Ni no Kuni sem passar eras mexendo no sistema de alquimia - tente fazer o mesmo em Dragon Quest VIII, ou fazer Rogue Galaxy sem grindar XP de armas e combinar as mesmas, e o jogo se torna impossível.

Ding Dong Dell: uma cidade com todo o charme da Ghibli E
da Level 5
Mas um ponto muito positivo do design de jogo de Ni no Kuni é voltar a algo que JRPGs abandonaram desde Final Fantasy X: o World Map. Não apenas temos mais uma vez um mapa mundi imenso a ser explorado, mas uma grande variedade de dungeons e áreas abertas para serem vistas, cada uma com suas próprias marcas "pessoais" - em ponto algum as áreas de Ni no Kuni são repetitivas - mas todas elas poderiam ser maiores.

As cenas animadas são lindas, mas podiam ser feitas in game
Não que ele seja precisamente um jogo ruim: as falhas da Level 5 são abundantes, mas raras vezes se tornam irritantes. Só meio que "poderia ter sido feito melhor". E nada disso importa para o peso final de Ni no Kuni quando se olha a outra metade do projeto, o estúdio Ghibli de Hayao Miyazaki. Onde o gameplay é subpar, o visual e o roteiro são maravilhosos - por mim, as cutscenes animadas a mão são totalmente dispensáveis, já que a engine do jogo já dá a impressão de estar dentro de um filme da Ghibli. Dos cenários às criaturas, tudo tem aquele charme digno de obras como Meu Vizinho Totoro e A viagem de Chihiro - enquanto o roteiro é garantia de causar tristeza, enquanto algumas cenas beiram o combustivel de pesadelos - cinzas caindo dos céus, alguém? Apesar disso, talvez fosse melhor que Ni no Kuni tivesse sido produzido como um filme, e não um jogo.

E como tudo da Ghibli E da Level 5, temos um elenco carismático, apesar do sotaque as vezes incompreensível de alguns personagens - e que é ampliado pela imensa variedade de familiares, uma das multiplas copias do "temos que pegar todos" de pokémon em jogos recentes. Mas uma cópia que tem identidade própria, embora reforce os problemas de grinding mencionados antes - acredite você vai ficar horas tentando pegar o mesmo bicho, sem sucesso, devido as baixissímas taxas de taming do jogo.


É impressionante como algo tão banal como um jogo de videogame pode as vezes discorrer sobre temas realmente relevantes, e como um "joguinho" pode ter um debate sério por trás. Desde o "what can change the nature of a man" do excelente Planescape: Torment, até a não tão bem sucedida critica ao "american way of life" da série GTA e os discursos muitas vezes confusos de Metal Gear Solid, alguns produtores adoram dar aquele "tchan" intelectual a mais aos seus títulos. E algumas vezes, por uma coincidência bizarra, as falhas técnicas do jogo acabam ajudando no tema narrativo... que é definitivamente o que ocorre com Ni no Kuni.

Em essência, Ni no Kuni é sobre aceitar a realidade como ela é e fazer o possível para tornar ela melhor, e sobre como o desespero pode corromper pessoas bem intencionadas. Tanto o "gênio negro" Shadar quanto a bruxa branca rejeitam a realidade, e desejam a destruição deste  mundo imperfeito para criar um novo sem falhas. Oliver parte em sua jornada querendo trazer sua falecida mãe de volta - nenhum deles aceita as falhas e imperfeições da realidade, mas enquanto Oliver aos poucos vai aceitando sua realidade, os vilões a muito já foram consumidos pelo desespero. Talvez não teria funcionado tão bem pra mim se o jogo em si não fosse repleto de imperfeições. Ainda assim, Ni no Kuni é uma recomendação sólida, ao menos para quem ainda curte JRPGs.

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