quarta-feira, 13 de março de 2013

Oz: Mundano e Razoável

Como um bom prato, um bom filme é mais do que a soma de suas partes, e meramente ter um elenco de ponta, um bom material de origem, efeitos visuais de primeira , uma ótima trilha sonora e um diretor experiente não é garantia de que a receita vá vingar. Não são poucos os filmes que falham apesar de terem todos os ingredientes certos - ou que fazem um total desastre com eles, vide o fiasco que havia sido Duna, de David Lynch - e Oz, Mágico e Poderoso é mais um dos casos em que a receita falhou em algum ponto.

Baseado em vários fragmentos dos livros de L. Frank Baum, "Oz" propõe-se a servir como um prequel tanto para os livros de Oz quanto para o clássico filme de 1935 - uma missão ambiciosa, e que ao menos em termos narrativos o filme cumpre. Mas é nessa proposta que o problema começa... Em primeiro lugar, Oz quer ser um backstory de um filme que é considerado como um dos melhores já feitos - e fica muito aquém de seu antecessor. Em segundo, sendo baseado em fragmentos de livros de um cenário já muito expandido, não é de se admirar que hajam contradições entre Oz e a outra obra que se diz o prequel de "O Mágico de Oz" : Wicked, o musical.

Mas não é realmente nesse aspecto que Oz fracassa. Não, o fracasso está na maior bola de idiota já confeccionada na história do cinema... Não é preciso ser um gênio para notar que Evanora, a personagem de Rachel Weisz, é claramente maligna - e ainda assim ninguém parece notar até que é tarde demais. Se esse detalhe não fosse absolutamente central para a história, e Evanora não fechasse todos os itens da lista do tirano maligno, a ignorância da personagem de Mila Kunis quanto a maldade da irmã seria perdoável - mas aqui, a forçação de barra passa da conta, e temos um filme onde a vontade que dá é imitar o Caetano e lembrar tanto Theodora quanto Oz de como eles são burros. Meio irônico que uma obra cujo cerne é poder bruto (mágico no caso) sendo derrotado por inteligência sofra de alguns dos personagens mais burros dos anos recentes.

Uma pena, porque depois do ponto em que a ficha cai o filme pega ritmo e jeito, e fica novamente bom - não fosse pela abissal atuação de Mila Kunis. Eu entendo que ela está tentando copiar o filme de 1935... mas acontece que isso não deu certo. Vale lembrar que Oz é um filme infantil, e sofre das tipicas atuações exageradas do gênero, mas o trabalho de Kunis devora o cenário demais até para isso.

E perto das sólidas atuações de James Franco, Rachel Weisz e a boa dublagem de Zach Braff (como o macaco mais perturbador já gerado por CGI), a canastrice de Kunis vira uma mancha asquerosa em uma série de atuações agradáveis. Nenhuma digna de prêmios, mas nenhuma ruim - salvo pela notável atuação da pequena Joey King como a garota de porcela e Michelle Williams como a bruxa boa Glinda, marcada por um ar de esperteza maior do que o do protagonista. Ambas muito boas nos seus papéis.

Se o roteiro e a atuação pecam ambos por causa do personagem de Mila Kunis, em termos técnicos "Oz" não tem nada a dever - os cenários são fantásticos porém críveis, com cores vivas raramente vistas em filmes recentes, e de um esplendor sem par. Não sem motivo, parecem um tanto artificiais de maneira a emular os fantásticos cenários pintados do clássico. Junte isso a uma trilha sonora de Danny Elfman, e se a narrativa não agradar, a estética pode até salvar a noite. Mas como muitos filmes em 3d, "Oz" segue a metodologia do "deixe me jogar um barril nele": ao invés de usar o 3d para dar profundidade as cenas como um todo, o filme vive de arremessar/balançar/meter coisas diretamente contra o espectador - e isso além de incomodo e pouco imersivo, também torna a experiência horrível se visto em 2d.



Ainda assim, embora esteja longe de ser um filme legitimamente bom, "Oz" é um filme divertido, e que merece algum destaque por ser um raro caso contemporâneo que não preciso "badassificar" os personagens  - ao contrário de Branca de Neve, por exemplo, o que resultou num razoável filme de fantasia, mas um terrível Branca de Neve - e no qual é possível para os heróis vencerem sem precisar apelar para a violência: como qualquer um familiarizado com o cenário todo de Oz, o "mágico" derrota as bruxas sem tocar um dedo nelas, apenas através de prestidigitação e truques circenses. E essa nova tentativa de contar o passado do "grande" mágico mantém isso. Definitivamente não vale uma entrada inteira no cinema, mas pode valer a meia - ou esperar para ver na TV ou no Netflix.


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